sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Céu e teto

Uma lua minguante e uma estrela bem próxima a ela enfeitavam o céu no fim da tarde de quinta-feira aqui em Madrid quando eu saí do prédio aonde vou morar. Arrematava a paisagem daquele início de crepúsculo a torre de uma igreja, que ainda se fazia visível pela claridade frouxa, fruto de um dia de tempo 'agradável' - o que quer dizer que não estava congelante. Pela primeira vez, parei por alguns minutos, olhei para os lados e me emocionei por estar fazendo esta viagem.
Essa introdução é só pra contar que, depois de quase 20 dias morando 'de favô' na casa da Bia, vou me mudar semana que vem para um apartamento na zona de Moncloa, como já havia adiantado antes, mas que só queria detalhar depois de assinar o contrato, o que fiz na quinta-feira.
Desde que cheguei, estava me preparando para o que todos diziam ser uma saga: encontrar apartamento em Madrid. Apartamento não, um quarto dentro de um apartamento, compartilhado normalmente entre 3, 4 ou 5 pessoas. Isso é muito comum entre jovens e estudantes daqui, e há até sites de busca de 'pisos compartidos' (apartamentos compartilhados).
Foi num deles que achei este apartamento, o primeiro que visitei, dois dias depois de chegar aqui em Madrid. Gostei logo de cara, mas achei por bem olhar outros para ter uma base de comparação.
No dia seguinte, antes da aula, vi mais dois que só me fizeram ter mais vontade de ir para o primeiro. Um deles cheirava mal e não tinha sala. O outro era tão pequeno que, na cozinha, era preciso fechar a porta para ter espaço de abrir a geladeira hauahhuahua!
Eu não quis ir para nenhum dos dois, mas nem se eu quisesse: ambos tinham uma lista enorme de interessados e rolava uma seleção para entrar! Como assim!!! O menino de um dos apartamentos ainda me disse: temos mais algumas visitas hoje e decidiremos até a noite, assim que, se não te ligarmos, é porque não te escolhemos!!!
Achei engraçado, mas logo depois me ocorreu que, se a seleção pra essas bodegas era assim, não devia ser muito diferente pro apartamento que eu gostava. Liguei na hora pra menina de lá para dizer que eu estava super interessada e ela me respondeu, sem muito ânimo, que qualquer coisa me ligava até terça-feira.
Não levei muita fé e já me preparava para outro round de visitas quando ela me ligou pra dizer que eu podia ficar com o quarto. Iupiiiiiiiii.
Depois de todos os meus 26 anos morando no meu quartinho que eu tanto gosto, a perspectiva de viver em um outro, qualquer outro, era meio angustiante, mas, através desse novo teto, enxerguei um céu claro, atraente e, sobretudo, imprevisível. Como aquele pôr-do-sol que me brindou na quinta-feira.
P.s.: Falo sobre o apartamento num próximo post, pq esse ficou muito grande.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Hambre


Depois de um fim de semana preguiçoso, com passeio no El Rastro (o mercado de pulgas madrilenho), almoço no La Latina (o Baixo Gávea madrilenho) e uma tarde em casa, comecei esta semana trabalhando - pela primeira vez no ano!
Fui a uma reuniao da ONU sobre segurança alimentar que aconteceu aqui em Madrid ontem e hoje com o presidente Zapatero e o diretor geral da ONU. Uma das matérias que fiz sobre a cúpula é esta.
Tirando a parte de sair de casa às 8h30, quando ainda está escuro por aqui, foi uma boa experiência, o primeiro contato com a cobertura internacional e com essas cúpulas.
Mas saí de lá com a impressao que, realmente, muito se fala e pouco se faz neste mundo. Parece que tudo já está ensaiado e nao passa de mero protocolo: faz-se um discurso cuja cópia você recebe por escrito segundos depois de começar, passa-se pra lá e pra cá com mil papéis na mao e, no final, assina-se uma declaraçao pedindo "mais açao" no combate à fome e à pobreza.
De qualquer forma, sem julgamentos. Talvez tenha que ser assim mesmo. Uma coisa é certa: como se comeu nessa cúpula sobre a fome!
Mas nao serei hipócrita: nao acho que as pessoas têm que morrer de fome porque estao discutindo sobre ela, e eu mesma filei um belo almoço na segunda-feira...

(Pessoas comendo na cúpula sobre a fome)

Semana 1 - Sua santidade, o metrô


Durante algumas das 26 viagens que eu já fiz de metrô até agora, tenho pensado no que seria de Madrid sem esse transporte. É um intricamento de 12 linhas com mais de uma centena de estações que praticamente cruzam de cabo a rabo a cidade.
A prefeitura de Madrid, que de boba parece não ter nada, explora os trilhos como pode:



Este anúncio - que diz "o metrô que todos queriam ter vive em Madrid" - está nas estações e em um cartaz gigantesco na Gran Vía, a rua mais badalada de Madrid.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Semana 1 - Assim em Madrid como no Rio parte 2

Outra semelhança das duas cidades: universidade pública é universidade pública. E isso quer dizer muitos cartazes, manifestações, gente jogada no chão, refeitório ruim, pessoas vendendo coisas pelos corredores e muitas, muitas palavras de ordem. Este é o prédio de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madrid:


Mas, neste caso, ou pelo menos atualmente, os protestos são não (só) contra o mundo capitalista, mas especificamente contra o Plano Bolonia, uma reforma no sistema de ensino superior de toda a União Européia para padronizar e otimizar alguns cursos e que, para os opositores, vai colocar as universidades a serviço de empresas e afetar a qualidade do ensino.
P.s.: Apesar disso, a minha universidade é linda.

Semana 1 - Assim em Madrid como no Rio

Eu já imaginava que ia encontrar muitas semelhanças no dia-a-dia de Madrid e Rio, simplesmente por se tratarem de duas grandes cidades. Mas não tinha noção que veria tanta coisa em comum.
Por exemplo: aqui também se vende DVDs pirata na rua, e ainda com aquela cordinha no meio pros ambulantes puxarem se o rapa chegar. Como assim!!!!!!! Gente, é um padrão internacional isso, é igualzinho: o DVD vem naquele envelope com a capa do filme impresso e é vendido no chão, à frente de um cara com mochila nas costas (igual no Rio!) e olhar desconfiado (igual no Rio!!). Pra quem não acredita:


Tirei essa foto rápido pro cara não perceber.

Semana 1 - Fala-se de...


Desde que cheguei, tenho tentado acompanhar os jornais, sites e programas televisivos daqui, então vou fazer um apanhado geral do que mais se vê nos noticiários locais nestes dias:
- A descoberta de um esquema (sim, aqui também) de espionagem dentro do governo de Madrid que atingiu o vice-prefeito e o vice-presidente de Madrid. Foi uma notícia dada pelo El País, o "New York Times" daqui, e todos os outros entraram na carona.
- Indicação ao Oscar da Penélope Cruz, chamada por aqui de "Pé"
- Uma greve de juízes marcada para o próximo mês
- Desemprego recorde na Espanha e...
- Obama, Obama, Obama.
Ou seja, nada que não se veja nos quatro cantos do mundo...Mesmo assim eu gosto de ler, acho que diz muito sobre a cidade, as pessoas, os costumes, etc.
Aqui em Madrid os jornais gratuitos (no Rio tem o Metro e o Destak) são bem popularizados. No metrô - que, diga-se, merece um post só pra ele - tem sempre um monte de gente com eles na mão. Mas também vejo muito os jornais pagos passeando por aí, apesar de eu achar os preços salgados - de 1,10 a 2,20 euros.

Semana 1

Hoje completei a primeira semana em Madrid e estou tentando fazer um apanhado geral desses primeiros dias há algumas horas, mas a ventania que bate na minha janela não ajuda - um mini-ciclone está passando pela Espanha e todo o país está em alerta, principalmente as zonas costeiras.
Apesar disso, o tempo hoje foi "bom", o que quer dizer que não foi congelante, e, depois de assistir a uma palestra com o cônsul do Brasil em Madrid, pra quem eu me apresentei e combinei uma visita, deu pra passear um pouco na área de Moncloa, onde vou morar (contarei sobre isso nos próximos dias).
Vou contar também em tópicos algumas das impressões desta primeira semana em Madrid nos próximos posts, que aparecerão acima deste. Enquanto isso, uma fotinho do jantar de quinta-feira feito pelo Martin, uma tortilla de milho colombiana cujo nome ele já me disse duas vezes mas eu me esqueci. Mais abaixo, a estação de metrô de Moncloa.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Rio 40 graus. Madrid, -1

Hoje caminhava na rua em busca de apartamento quando floquinhos de neve começaram a cair. Passou longe da nevasca da semana passada - ainda bem! - e eu só percebi pelo contraste com o preto do meu casaco, mas eu mesmo assim tratei de me abrigar no El Corte Inglés, depois de admirar (por alguns segundos) aquelas paisagem.
Dizem por aqui que não nevava em Madrid havia uns 30 anos e que este inverno é um dos piores. Pra mim, friorenta até no Rio, este era um dos maiores desafios. Até agora não congelei, mas há alguns momentos que acho que vou chegar perto. Tais como:
- Sair do banho - Enfrentar o frio de ficar pelada pra entrar no banho quentinho é mole. O problema é na hora de desligar a torneira. Tento pensar no desperdício de água, nos europeus do leste que ficaram sem aquecimento por causa do corte do gás russo, mas nada disso adianta: quando me dou por mim, lá estou me balançado de um lado para o outro a fim de esquentar todo o corpo com a água quente. A única coisa que tem adiantado é lembrar que estou como hóspede em um apartamento com um só banheiro.
Daí, pluft: toda magia daquele calor se esvai na rapidez do desligar das torneiras daqui. Recorro então ao ritual que meu pai me ensinou para tirar o excesso de água do corpo: dar dez pulinhos (dou 30) e passar a lateral da mão sobre todo o corpo com movimentos rápidos.
- "Só" andar na rua - Sempre dizaem que, como tudo tem calefação, o frio é "só" quando você anda na rua. O problema é esse "só", que, no meu caso, se traduz em caminhadas diárias de uns oito minutos cada de casa para o metrô, do metrô para a faculdade e o contrário, além das andanças em busca de apartamento (que contarei logo).
Mas é verdade, pra minha surpresa, que sair na rua não tem sido tão congelante. Acho que é pelo tanto que me agasalho - hoje coloquei três blusas e dois casacos, além do casacão, do mega cachecol, da meia-calça, meia de lá, calça e bota.
Tentei pensar em como me sentiria com toda essa roupa no Rio agora. Entrei na Zara sem tirar nada para experimentar essa sensação, mas logo esqueci do assunto e comprei um novo casaco. São as rebajas, fazer o quê...

domingo, 18 de janeiro de 2009

A primeira foto














Saímos do metrô eu e Bia - que gentilmente me hospeda no apartamento dela até que eu encontre o meu próprio - rumo ao meu primeiro passeio turístico (e consumista) em Madrid quando nos deparamos com esta imagem: "miles de personas" em protesto na Puerta del Sol, um dos principais pontos turísticos de Madrid - contra as incursões de Israel na Faixa de Gaza.
Logo viramos à direita e nos deparamos com outra quase igual multidão - esta em direção ao El Corte Inglés, uma imensa cadeia de mega lojas espanhola, e às rebajas, liquidações de janeiro, de lojas como Zara, Mango e etc.

Embarque para o novo-velho mundo

Foi difícil me despedir dos meus pais e irmã. Não por parte deles, que me apoiaram em cada minuto e cada etapa do planejamento para esta viagem. Mas por serem os meus maiores companheiros, por sermos tão unidos.
Por isso, e por toda a excitação e nervosismo que envolvem um embarque deste tipo, chorei como a filha caçula que sou ainda na fila do check in. Como sempre, eles me abraçaram e disseram palavras de apoio e incentivo.
Palavras que me empurram portão adentro. Empurrão que desengasgou a palavra que tanto havia ensaiado para dizer a mim mesma, destarte a insegurança de morar sozinha, o medo do frio, de perder as malas e o chão e o cansaço: iupiiiii!
Só fui freiada pela fila do embarque, que atrasou em uma hora. Nesta hora, que passei em pé, tentei me destrair com a massa prestes a viajar comigo: uma moça de Havaianas, outra de botas de cano alto, um brasileiro que mora em Israel e tirava fotos da mulher e da filha como se o cenário - a fila - fosse uma paisagem. Para eles devia ser, porque se tratava, explicava a mulher, da primeira viagem da filha.
Uma passageira atrás dela contava como havia deixado a filha no Brasil para só vê-la nos próximos seis meses quando a amiga lhe informou que "ela já está em casa vendo a novela".
Daí que foi inevitável eu pensar comigo mesma que parte de mim gostaria muito de estar em casa agora vendo novela. Mas esse pensamento novamente esbarrou na muralha construída pelas palavras ditas pouco antes pela minha mãe, quando lhe telefonei da fila: "minha filha, um novo mundo está se abrindo pra você".

Diário de bordo

A partir de agora, este blog ganha status de diário de bordo online. Convido vocês a compartilhar comigo impressões e o um pouco do dia-a-dia da temporada que passo em Madrid.
Luisa.