sábado, 27 de fevereiro de 2010

Tempestade

Pela primeira vez ouvi um trovão em Madrid, depois de mais de um ano sem nem um raiozinho sequer. Até porque em Madri não chove - ou melhor, não chovia. No ano passado, não usei guarda-chuva nem um dia sequer. Este ano, já tenho dois, porque desde janeiro não pára de chover - embora uma chuva fininha, daquelas tipo a garoa da São Paulo de outrora.
Daí meu susto quando estava no restaurante na tarde de sábado secando talheres e ouvi um estrondo que os meus ouvido já não reconheciam com tanta clareza. Uma bomba do ETA foi a primeira coisa que pensei, assim como pensaria se tratar de um tiro se estivesse no Rio.
Mas meus neurônios, apesar de lentos, não tardaram muito a lembrar que aquilo era um trovão. Um trovão!
Ah que delícia aquela sensação de chuva forte, de vento quente na cara e de trópico que tive quando saí do restaurante - pela primeira vez sem casacão, porque, apesar da chuva, o tempo estava melhor - e deixei que aquele clima atípico para esta época entrasse no meu corpo! Me fez lembrar as noites de verão sobre as quais já escrevi aqui.
Infelizmente, não se tratava de uma mudança dos trópicos aqui pra cima, mas de um mini-ciclone que a meteorologia já vinha prevendo há alguns dias. Não chegou a ser tão forte como se alardeou por todo o país, mas foi o suficiente para quase me fazer voar enquanto eu caminhava pela rua durante a noite. Acho que foi o mais próximo de um furacão que já vivi - e que espero viver.
No domingo, outra bela surpresa: depois de tantos dias cinzas, a cidade amanheceu com um sol lindo, que eu celebrei indo a uma feijoada legítima na casa da chef carioca Juliana Aguiar, já que ganhei uma folga forçada por causa de uma mini torsão de tornozelo que fiz sábado na academia, e por causa da qual passei duas horas na fila de hospital público (sim, na Europa também tem isso).
Para completar o mix de temperaturas, fechei o dia com uma sessão de sauna na academia depois da aula, que intercalei com duchas de água gélida pra ver se o choque término me dava uma injeção de energia para as (muitas) leituras atrasadas que tenho no doutorado.
Realmente a meteorologia não errou: pelo menos para mim, estes dias foram de tempestade... mas de ótimas sensações (tirando o tornozelo e a fila do hospital...)!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Aeroporto

Já perdi a conta de quantas vezes fui ao aeroporto de Madrid. Para embarcar mesmo, poucas - e nessas geralmente estou correndo para não perder o voo. No restante, diria uns 80% das vezes, estou ali para buscar ou deixar alguém. Só nas ultimas três semanas, foram três, para buscar e deixar minha mãe - que passou 15 maravilhosos dias comigo - e pra buscar a Luci, uma amiga carioca (sim, meu quarto já virou albergue!).
Mas não que eu esteja reclamando. Pelo contrário: além de o meu cartão do metrô me permitir ir de graça até lá, adoro aeroportos. E não só o de Madrid. Adoro observar as pessoas que passam pra lá e pra cá, os encontros, o clima de "não-lugar"...
Pelo menos no caso de Madrid, a impressão que me dá é a de estar numa espécie de universo paralelo: você sai na rua cheia de gente e carros, geralmente com pressa e cheio de malas, pega o metrô e puff... de repente está ali, num espaço opaco, silencioso, com esteiras elétricas, cafés, pessoas cheias de malas, de destinos, de origens e de histórias estampadas nos seus rostos meio apáticos, meio blasé, com "cara de aeroporto".
Sempre que estou esperando uma chegada no portão de desembarque ou um último tchauzinho na fila de embarque - que, by the way, tem demorado bastante por causa do atual rito de passagem que inclui tirar botas, cintos, colocar os líquidos no saquinho, etc - me pego de repente parada observando todo esse "não-movimento", essas migrações instantâneas. E me dá vontade de ficar ali o dia todo.
Pode ser saudade de casa, vontade de ir junto ou mais bem maluquice minha mesmo (ou ainda os três juntos). Não importa. O que importa é que já desço no elevador que leva direto à estação do metrô esperando a próxima desculpa pra voltar. Segunda que vem já arrumei uma: vou receber a minha irmã e uma amiga.
Quem será o próximo???