quinta-feira, 28 de julho de 2011

Despedida

A cada despedida, sempre vai embora um pouco de quem fica. E sempre, a cada despedida, fica um pouco de quem parte.
Seja qual for a partida.
Aqui em Madri, o fluxo de gente chegando e partindo é tanto que sair para uma despedida é tão habitual como ir a um aniversário. Ou mais até, dependendo da época e considerando a crise econômica da Espanha que expulsa cada vez mais os imigrantes.
Mesmo assim, quando se mora longe de casa a sensação é que qualquer relação que estabelecemos é bem mais efêmera, não pela profundidade – às vezes bem maior que as de toda a vida – mas por se criarem e se desfazerem na dinâmica desse vai e vem de pessoas que, casualmente ou não, se encontraram numa determinada cidade, num determinado período de tempo.
São nesses momentos, porém, que, uma nas outras, deixam suas marcas, grandes – como um amor à distância, coisa para valentes – ou pequeninas, como um tapetinho deixado de herança por uma amiga que foi embora de Madri há algumas semanas e que se encaixou perfeitamente no meu quarto. E para o qual, olhando esta manhã, eu voltei a pensar neste tema, especialmente ao lembrar que havia sonhado com o meu avô, por quem nutro outro tipo de saudade, o eterno.
Outro dia, no aeroporto, uma portuguesa sentada ao meu lado dizia ao telefone que também tinha saudade, essa palavra bonita que só se ouve no nosso idioma - salvo em adaptações como a de um amigo paraguaio, que me escreve "eu teñio saudadí" - mas se sente em todos.
Porque ninguém está imune a ter o coração apertado quando move a mão para dar um “tchau”, fisicamente um movimento simples, mas emocionalmente talvez um dos mais complexos.
Porque cada “tchau” está carregado de histórias, sentimentos, sorrisos, lágrimas, palavras ditas e não ditas – essas que apertam ainda mais forte.
Cada “tchau” tem impresso em si a marca de quem fica em quem vai, e a dos que partem em quem deixam. E assim, um no outro, se fazem eternos.