quarta-feira, 8 de setembro de 2010

As férias 2


Hoje uma folha de outono caiu despretensiosamente sobre a sacada da minha janela, num sutil presságio do fim do verão, anunciado também pela queda gradual das temperaturas.O que me lembrou que ainda faltava por relatar aqui meu verão de 2010.
Desta vez não passei pelas loucuras do ano passado , como morar em um barco, ir numa praia louca, se demitir de um trabalho semi-escravo, perder o voo ou mudar de destino de um dia pro outro. Mas mesmo assim teve muita aventura e ótimas lembranças: pela primeira vez na vida, vi uma estrela cadente e plantações de girassóis, dois arco-íris, revi pessoas queridas que não via há dez anos e conheci outras tão maravilhosas quanto, passeei duas vezes por Paris, dancei salsa em Berlim e me apaixonei (por uma cidade!).

As férias começaram oficialmente no sul de Portugal para onde fui na última semana de julho, depois de quase todo o mês de bastante trabalho no restaurante, pra rádio e pro jornal e nenhum estudo.
Gente chorando, gente gritando, gente brigando, gente correndo, gente deitada no chão, gente na fila. Muita gente. Esse foi o cenário com o qual me deparei na chegada ao aeroporto de Madri, que cospe gente pra fora durante os meses de julho e agosto, tanto de europeus desesperados pelas praias espanholas quanto de espanhóis desesperados por sair da cidade.
Depois de assistir um pouco daquele circo e sofrer uma horinha na dura cadeira da Ryanair, aterrissei em Faro, no sul de Portugal, onde encontrei minha irmã, minha prima Carol, que finalizava um intercâmbio no Porto, e a portuguesa Rita, que nos acolheu na sua deliciosa casa de praia no Algarve, a região sul de Portugal que todos deveriam conhecer um dia.
Tomei um banho literal e figurativo de mar, este que já não provava há uns bons 10 meses, além de passear de barco, mergulhar, comer maravilhosamente bem - como sempre se faz em Portugal, aliás - e me balançar muito na rede da varanda da Rita, de onde vi, pela primeira vez na vida, uma estrela cadente.

Cinco dias depois e voltei à realidade, que no meu caso era terminar meu trabalho de qualificação do doutorado, que tinha que ter começado em junho - à tempo de embarcar numa viagem para Berlim no fim de agosto. Ledo engano...

Como no ano passado, o acaso me conquistou também neste verão, e me levou a Paris duas vezes no mesmo mês (que chato!). Na primeira delas, fui reencontrar a família que me recebeu durante meu intercâmbio pros Estados Unidos há dez anos, e a quem eu não via desde então. Depois de ser ótimamente bem recebida por um arco-íris e pela minha amiga franco-portuguesa Babeth no seu apê com a varanda de cara para a Sacre Couer, de onde saboreei os indecentes croissants parisienses no café da manhã, encontrei a família no Arco do Triunfo. Mas, como bons americanos, eles escolheram trocar as largas calçadas da Champs Elysée pelo castelo da Eurodisney, o que não me desagradou, já que assim pude incluir loopings deliciosos de montanhas russas no meu diário de férias.

De volta à Madri, de volta ao batente, tirando os (muitos) momentos de visitas familiares que passaram por solo espanhol nesse mês. Família é família, e como a minha é maravilhosa, os momentos que passamos juntos foram igualmente assim.
Tudo bem, teria ainda uns dias até Berlim, não fosse o destino querer que eu fizesse uma segunda parada em Paris, desta vez super improvisada e decidida uns dias antes.
Daí não ter mais voos que custassem menos do que me custaria ir ao Brasil, e daí eu corajosamente decidir encarar uma viagem de 17 horas de ônibus entre Madri e Paris.
Tirando as terríveis dores nas costas - o que me fez aceitar a minha velhice no que diz respeito à viagens de ônibus longas - foi uma linda jornada: cruzamos por mais de uma hora uma infinidade de campos de girassóis, que ansiava por ver, já que tenho um tatuado nas costas, atravessamos cidades lindas com San Sebastián, Burgos, Orleans e dezenas de pequenos povoados no norte da Espanha e no sul da França.
Ok, a viagem me destruiu, mas não a ponto de me impedir de passar dois deliciosos dias em Paris, de onde fui direto pra Berlim, o destino final.

Como normalmente acontece comigo, me apaixonei por Berlim aos poucos. Cheguei cansada, com frio, com sono e com fome, e sem achar a casa do Igor, meu amigo carioca que está encarando um doutorado na Alemanha e me receberia no seu lar berlinense, que eu achei depois de desistir de andar na chuva e apelar para um taxista turco.
Pouco a pouco, fui explorando a cidade, das festas às dezenas de museus, um melhor que o outro, da História que transborda pela cidade aos bares super modernos, das milhares de bicicletas ao verde intenso, da salada de batata (opção alemã para quem não come salsicha) às apfel strudels, da pontualidade e disciplina assustadoras mas muito admiráveis à informalidade de uma cidade extremamente jovem, tudo, absolutamente tudo em Berlim me conquistou - menos os 16 graus que faziam em pleno verão!

Saí de lá com a sensação de que tinha que ficar mais uma semana, mas com a certeza de que foi a chave de ouro para mais um verão europeu

(e, sim, até agora não terminei o trabalho).

3 comentários:

kitty disse...

Noooossa, como é fácil viajar de carona nos seus relatos!
bjs

marcelo alves disse...

Berlim, cidade maravilhosa apesar do frio que nos maltratou. É lugar para voltar um dia certamente.
beijo,
marcelo

Raquel Medeiros disse...

Adoro te ler, Luli. Beijos, Raquel