quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Tom

Pretensão, tentar estabelecer qualquer comparação entre ele e eu, já que falo de Tom Jobim. Mas ligações, umas menos tênues, outras mais, há. Há, pelo menos, desde 1981, quando eu, na barriga, nem da vida sabia, e ele já tinha capturado dessa vida o que de poesia e beleza ela tem e o misturado a sua inspiração para compor Luiza, que meses depois, já no ano seguinte, veio a nomear-me: Luisa, nome-canção que, até hoje, me rege. Doze anos depois, aconteceu nosso primeiro e único encontro, se é que o posso chamar assim. Foi quando entrava no ônibus, no Jardim Botânico, indo fazer trabalho de colégio, que vi o cortejo com o corpo dele passar, também pela Rua Jardim Botânico, só que no sentido contrário. Mesmo pré-adolescente, sem conhecer a força de suas canções, virei-me para prolongar, como o olhar, o adeus a ele, e até hoje aquele momento – como muito poucos – me é nítido na memória. E outros 12 anos se passaram, até que hoje, eu com 24, ele, se aqui, com 80, e daí a homenagem que se passa diante de meus olhos, e de outros tantos que prolongaram seus domingos para se deliciar com este mestre e lembrar de outras tantas ligações, como a de também achar que o meu Rio foi feito pra mim, com a diferença que esta costuro com ele assim como outros tantos admiradores seus, tantos e tão mais intensos e fiéis que sinto certa pretesão de começar a descrever esta ligação. Mas isto já não importa, porque muito maior que o embaraço desta pretensão é o nada modesto orgulho de ter de Tom um pouco da minha vida.

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