Ele toca há 52 anos o som da madeirinha batendo no chocalho, sem nunca sair do ritmo, como as ondas do mar que lhe acompanham. Para quem escuta, é a senha de que lá vem o moço das balas de chupetinha e do biscoito de canudo, sempre juntos - ele, a bala, o biscoito e o som da madeirinha.
É parte da história do Rio, que ele escreve nas linhas tortas da areia todos os dias, há 52 anos. É o que ele me conta sentando nesta pedra onde o mar bate fraquinho e enquanto dá os últimos tragos do cigarro antes de iniciar mais um desses dias que se repetem há meio século.
Para ele a história se repete sim, e não como farsa, mas como uma reinvenção diária da caminhada ao som da musiquinha da madeira entre as pedras do Leblon - onde estamos - e do Arpoardor. Das pegadas que ele faz e se desfazem continuamente na areia.
Ele arremessa a ponta do cigarro, levanta e recolhe a caixa de papelão com a alça cilíndrica de madeira (também inseparável das balas, dos biscoitos, da música e dele). Dá o primeiro passo com esmero, depois o segundo, o terceiro, e quando vejo ele já vai longe, sem qualquer suspiro de cansaço pelo peso do caixote e da caminhada.
Talvez não sejam nenhum deles pesados para o seu Arino - ao menos é a lição que ele hoje me ensinou, sem saber.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
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3 comentários:
já percebeu que tudo que é lição nessa vida tem a ver com caminhar passo a passo?
Cheguei a ouvir. adoro seus textos, Luli. beijos
Muito bom, Luli! ;-)
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