terça-feira, 4 de agosto de 2009

As férias, capítulo 1

O capítulo um começa com uma dúvida (pra variar), que remonta a meados de julho (sim, estou um mês atrasada):
Comecei a trabalhar em uma sorveteria/cafeteria, depois de ser demitida de uma patisserie belga que eu estava amando mas que cortou 15 funcionários por causa da bosta da crise.
O trabalho, diferente da patisserie belga, onde o mundo era cor de rosa e o pao, maravilhoso, é bem puxado: quase 10 horas por dia, seis dias por semana, e não pense que é só ficar colocando bolinhas de sorvete no copinho. Vai daí pra baixo.
O salário é ruim para a exigência de trabalho, mas bom em termos relativos. Dá para me manter bem e ainda juntar uma grana extra e poder fazer um doutorado mais tranquila. Além disso, o cara que me contratou aceitou numa boa a minha carteira de identidade de estudante (que, apesar de legal, é rejeitada por muitas empresas), e a gerente é uma argentina super fofa. Isso para não mencionar que posso passar o dia tomando sorvete e sucos, comendo croissants e sanduiches.
Bem, er, então, qual é a dúvida?
Basicamente, que tenho até setembro para escrever a tese e, apesar de não estar mais em aulas, ia começar em breve a parte prática do curso - que previa uma viagem de cinco dias em agosto. E, depois de nove horas esfregando chão, servindo sorvetes, lavando louça, passando calor e afins, já não me sobra muito ânimo. Menos ainda porque que me trocaram de turno e a minha chefe, que era uma argentia fofa, passou a ser uma bruxa espanhola grossa e mal-humorada.
Acrescente-se a isso o fato de que, dias depois, chegaram a Madrid o Renato e o Marcelo, dois amigos do Rio com quem havia combinado três dias de praia em Barcelona, o que, para quem encara os 40 graus diários e a secura de uma cidade que está a pelo menos três horas de qualquer resquício de mar, é um paraíso.
E foi sonhando com esse paraíso que cheguei na sorveteria as 8h de um domingo, alguns minutos antes de a gerente bruxa soltar a sua primeira grosseria do dia, reclamando que eu estava colocando os croissants na bandeja com uma mão, em vez de duas. Pensei: pronto, esse era o motivo que faltava para me convencer a jogar a toalha - neste caso, o avental. Comi calmamente um croissant, chamei a gorda pro canto e disse: olha, assim não está dando para eu continuar, você é muito grossa e não dá para trabahar dessa forma, etc e tal.
Terminei o discurso, tirei o avental e saí correndo para pegar o Renato e o Marcelo ainda na minha casa, aonde eles se hospedavam, e aproveitar o dia em Madrid.
Tudo bem, foi tudo muito intenso, com cara de cena de filme e tal, mas a dúvida de abrir mão de um emprego que poderia me garantir uns meses mais aqui ainda rondava minha cabeça. Até pararmos para ouvir um grupo de violinistas que se apresentavam na rua. Ali, ao som de Primavera de Vivaldi (a música-tema da viagem com os meus pais pela Europa) e de Tango e na entrad da Plaza Mayor, fechei os olhos e, só pelo que senti naquele momento, já valeu a pena.
E olha que ainda nem tínhamos embarcado para Barcelona, onde muito sol e mais confusões me aguardavam...

Um comentário:

Marcelo Alves disse...

Mas o sorvete de lá pelo menos era muito gostoso. rsrs Aguardemos os próximos capítulos.
beijo,
marcelo