Ela se chama Maria, como tantas outras, que, também como ela, caminham com o único objetivo de chegar "lá". Caminham com passos sofridos, olhos no horizonte, vergonha das vezes em que querem parar para descansar.
Maria caminha para chegar, ainda que não tenha a mais vaga idéia dos rumos de sua peregrinação.
- Eu sei que vou chegar lá.
- Lá aonde Maria?
Maria não responde. É que as Marias não percebemos que não há "lá", ou melhor, há sim: mas o "lá" é aqui. É neste caminho que a vida acontece, Maria. É em cada passo que a vida se faz, se cria, toma a forma que esculpimos com nossos pés. Seus passos não te levam a nada, eles tão simplesmente levam a ti mesmo. Cada passo é tão valioso, Maria, não percebe? Não percebe a maravilha que é poder dar um passo, e outro, e outro? E a delícia de dar as mãos com estes aqui do lado.
Do lado?
Maria poucas vezes olha para o lado. Daí ela não perceber os pós de ouro, as margaridas brancas, a água cristalina e a grama reluzente que margeiam seu caminho e a acompanham em uma estrada sem fim. Não percebe as canções, nem quem as canta, quem ri, quem chora.
É que não há tempo, pensa Maria. Se olham para os lados, as Marias acham que vão se perder, e não vão chegar lá, e vão se decepcionar.
Mas as Marias, humanas que são, se cansam. E querem parar para descansar. E descansam, o cansaço vazio, e se sentam sobre a incógnita e o medo de para sempre ficarem ali sentadas, fracas que se acham, ante aquela multidão que caminha sem parar para chegar "lá".
Mas Maria, querida, você, com tua força que você cisma em ignorar, já chegou há muito tempo "lá". Chegou no momento em que nasceu.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
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Um comentário:
Ora, ora, ora, um texto novo aqui depois de milênios. Viva a Maria. Você assim justifica figurar na seção "Outros Pensamentos" de Memórias da Alcova.
beijo
marcelo
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