quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

De outro mundo

"Dónde termina tu cuerpo e impieza el mio?
A veces me cuesta decir
Siento tu calor, siento tu frío
Me siento vacio si no estoy dentro de ti"
Fusion, Drexler

Nossas pernas e braços
se encontram no tempo e espaço,
(coisas deste mundo)
e somos só entrelaço
e é beijo e abraço
e percalço
para chegar até você...

mas quando chego, amor
tudo se acalma
porque, corpo a corpo, (furor)
nosso encontro de verdade
é o da alma
(coisas de outro mundo)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Venda translúcida

Quero ver o que querem me mostrar
(Não) quero ver o que querem me mostrar
Quero ver o que (não) querem me mostrar

A nós, obrigada

Caminhamos juntos, eu e ele, por um bom tempo, e por bom não quero dizer nem menos de um ano nem mais de dois. De mãos dadas, adentramos várias portas, a maioria das quais não cabe dizer aqui, mas digo aos sete ventos que sim, só adentramos lá um por causa do outro. Ou talvez por nós. Nós sabíamos o que queríamos. Pelo menos na época, sabíamos. O que um falava ecoava no outro. O que um sentia, sentia o outro. Vivam os dois, no mesmo ritmo, lado a lado. Não havia planos, havia dúvidas, mas também esperança.
Hoje, há lembrança
Pura, como daquele ontem da seda da dúzia de rosas enxugando as lágrimas da derrota de uma batalha, que se mostrou pequenina, ínfima diante do mar de possibilidades que um acreditava haver no outro. Também das mútuas vibrações com cada passo conquistado, cada pequena vitória, que se mostraram grandes, nobres diante do brilho orgulhoso do olhar daquele outro, que hora era eu, hora ele, e, deste jeito, era nós, no nosso jeito.
Hoje, há certeza
Que este um e este outro hoje assim se sabem pelo tempo em que foram nós. Hoje estão aqui, neste começo-aqui, porque um disse ao outro, e vice-versa: ali é teu lugar. E foi por acreditar um no outro que seus caminhos se fizeram paralelos, embora aqui e ali se acenem e se olhem com a tenra alegria de terem, em si, uma história.
Embora seja grata por ele, a ele não quero agradecer. A nós, sim, meu muito obrigada.

Tom

Pretensão, tentar estabelecer qualquer comparação entre ele e eu, já que falo de Tom Jobim. Mas ligações, umas menos tênues, outras mais, há. Há, pelo menos, desde 1981, quando eu, na barriga, nem da vida sabia, e ele já tinha capturado dessa vida o que de poesia e beleza ela tem e o misturado a sua inspiração para compor Luiza, que meses depois, já no ano seguinte, veio a nomear-me: Luisa, nome-canção que, até hoje, me rege. Doze anos depois, aconteceu nosso primeiro e único encontro, se é que o posso chamar assim. Foi quando entrava no ônibus, no Jardim Botânico, indo fazer trabalho de colégio, que vi o cortejo com o corpo dele passar, também pela Rua Jardim Botânico, só que no sentido contrário. Mesmo pré-adolescente, sem conhecer a força de suas canções, virei-me para prolongar, como o olhar, o adeus a ele, e até hoje aquele momento – como muito poucos – me é nítido na memória. E outros 12 anos se passaram, até que hoje, eu com 24, ele, se aqui, com 80, e daí a homenagem que se passa diante de meus olhos, e de outros tantos que prolongaram seus domingos para se deliciar com este mestre e lembrar de outras tantas ligações, como a de também achar que o meu Rio foi feito pra mim, com a diferença que esta costuro com ele assim como outros tantos admiradores seus, tantos e tão mais intensos e fiéis que sinto certa pretesão de começar a descrever esta ligação. Mas isto já não importa, porque muito maior que o embaraço desta pretensão é o nada modesto orgulho de ter de Tom um pouco da minha vida.

(

Um círculo inacabado é a maneira mais pura de dizer: nunca termine de tentar completá-lo.
Tentar completar um círculo é a maneira mais pura de dizer: vá, embora saiba que nunca chegará.
Ir mesmo sabendo que nunca chegará é a maneira mais pura de dizer: a pior solidão é a solidão de si.